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O papel da ONU Mulheres e a liderança de Michelle Bachelet

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Minhas caras e meus caros,

Aproveitando a série de artigos sobre o Dia Internacional da Mulher, hoje vamos falar de um assunto muito sério e importante em todo o globo. Diversas mulheres em todos os cantos do mundo sofrem diariamente com discriminação e violência nas diferentes esferas de suas vidas e, geralmente, são sub-representadas nos processos decisórios de questões sociais, políticas e econômicas. Em sociedades com culturas mais tradicionais e conservadoras, meninas são impedidas de terem acesso à educação básica e ao atendimento de saúde necessário. Na maioria dos países, as mulheres ainda possuem dificuldades para se alocar no mercado de trabalho e enfrentam grandes disparidades salariais em relação aos homens que desempenham os mesmos cargos que os seus. Todos esses pontos nos ajudam a enxergar o quanto as desigualdades entre homens e mulheres permanecem profundamente enraizadas nas mais diversas sociedades e como é necessária e urgente a luta pela igualdade de gênero.

No âmbito internacional, a Organização das Nações Unidades (ONU) buscou realizar, durante décadas, algumas ações e medidas para a diminuição das desigualdades de gênero no mundo, dentre as quais se destacam a Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres (CEDAW) de 1979 e a Declaração e Plataforma de Ação de Pequim, fruto da Quarta Conferência Mundial sobre as Mulheres em 1995. No entanto, a organização sempre enfrentava sérias dificuldades, como financiamento insuficiente e ausência de uma unidade de representação para organizar as atividades desse tema, para dar prosseguimento aos projetos voltados para a promoção da igualdade entre homens e mulheres.

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Com o intuito de superar esses desafios, em julho de 2010, a Assembleia Geral da ONU fundou a Entidade das Nações Unidas para a Igualdade de Gênero e o Empoderamento das Mulheres, também conhecida como ONU Mulheres. Baseada no princípio de igualdade consagrado na Carta da Nações Unidas, a instituição trabalha fundamentalmente para eliminar a discriminação contra as mulheres e meninas, empoderar as mulheres e promover a igualdade entre mulheres e homens como parceiros e beneficiários do desenvolvimento, direitos humanos, ação humanitária e paz e segurança. A iniciativa é oriunda da agenda de reforma das Nações Unidas e reúne as atividades da Divisão para o Avanço das Mulheres (DAW), do Instituto Internacional de Pesquisas e Capacitação para o Progresso da Mulher (INSTRAW), do Escritório de Assessoria Especial para Questões de Gênero e Promoção da Mulher (OSAGI) e do Fundo de Desenvolvimento das Nações Unidas para a Mulher (UNIFEM) – núcleos distintos do Sistema ONU responsáveis pelos trabalhos sobre igualdade de gênero e empoderamento das mulheres anteriormente.

A ONU Mulheres se propõe a atuar para proporcionar voz a mulheres e meninas em nível global, regional e local. Dentre suas principais funções estão o apoio aos organismos intergovernamentais, como a Comissão sobre o Status da Mulher, na formulação de políticas, padrões e normas globais; o auxílio aos Estados-membros a implementar estas normas, com apoio técnico e financeiro adequado para os países que o solicitem e formação de parcerias eficazes com a sociedade civil; e a ajuda ao Sistema ONU na responsabilidade pelos seus próprios compromissos sobre igualdade de gênero, incluindo o acompanhamento regular do progresso do Sistema.

Na ocasião de sua fundação, a instituição contou com a chefia da estadista chilena Michelle Bachelet Jeria, que ocupou o cargo de primeira Sub-Secretária-Geral e Diretora-Executiva da ONU Mulheres.

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Formada em Medicina pela Universidade do Chile, Bachelet começou a participar de atividades políticas ainda jovem, tornando-se membro da Juventude Socialista logo no primeiro ano da faculdade e, posteriormente, foi apoiadora ativa da Unidade Popular – aliança política chilena, que apoiou a candidatura de Salvador Allende para a eleição presidencial de 1970. No período de 1975 a 1979, ela viveu em exílio na Austrália e na Alemanha em decorrência do golpe de Estado e início da ditadura Pinochet no Chile (1973-1990).

Ao retornar ao seu país, Bachelet recebeu uma bolsa da Associação Chilena de Medicina para se especializar em Pediatria e Saúde Pública no Hospital Roberto del Río e, durante a década de 1980, ocupou diversos cargos sociais em instituições como a ONG Pidee, que se dedica a prestar ajuda profissional às crianças detidas e vitimadas pelo regime militar de Santiago e Chillán. A partir de 1990, paralelamente ao retorno da democracia no Chile, ela trabalhou no Western Metropolitan Area Health Service, sendo também incorporada à Comissão Nacional Contra a Aids (Conasida). Posteriormente, tornou-se consultora da Organização Pan-Americana da Saúde (OPS) e trabalhou no Ministério da Saúde chileno em temas relacionados à melhoria da atenção primária e à gestão dos serviços. Em 1996, interessada na reaproximação das esferas civil e militar, ela se especializou em temas relacionados à Defesa Nacional, realizando cursos sobre estratégia militar e defesa continental. Mais tarde, tornou-se conselheira do Ministério da Defesa.

Em março de 2000, Michelle Bachelet tornou-se Ministra da Saúde do governo de Ricardo Lagos Escobar, onde liderou um importante processo de redução do tempo de espera dos atendimentos primários e lançou as bases para iniciar uma reforma do sistema de saúde chileno. Em um processo amplo e participativo que incluiu fóruns de cidadãos e mesas redondas, usuários, empresários, especialistas, acadêmicos, associações profissionais e sindicatos de saúde concordaram e apresentaram a primeira proposta legal para a Reforma dos Direitos e Responsabilidades dos Trabalhadores de Saúde.

110306_balcones_3Dois anos depois, Bachelet ocupou o cargo de Ministra da Defesa, sendo a primeira mulher a ocupar esta posição no Chile e na América Latina. Sob a sua direção, foram introduzidas importantes alterações no Serviço Militar Obrigatório, reforçou-se o papel do Ministério e do Estado-Maior, melhoraram-se as condições das forças policiais e mais forças de peacekeeping chilenas foram alocadas pelo mundo. Uma das ações de maior destaque foi também a introdução de políticas de gênero destinadas a melhorar a situação das mulheres nas forças armadas e policiais chilenas.

Após conquistar um amplo apoio nas eleições chilenas de 2005, a estadista tornou-se a primeira mulher Presidente da República no Chile, marcando o início de um período em que o governo se concentrou em alcançar mais igualdade e inclusão social. Defensora dos direitos das mulheres há muitos anos, Bachelet sempre advogou a igualdade de gênero e o empoderamento das mulheres ao longo de sua carreira. Um dos maiores sucessos de seu primeiro mandato como presidente (2006 a 2010) foi a decisão de economizar bilhões de dólares em receitas para investir em questões como reforma das pensões, programas de proteção social para as mulheres e crianças e pesquisa e desenvolvimento, apesar da crise financeira vigente no período. Outras iniciativas incluíram triplicar o número de novas creches públicas para famílias de baixa renda e concluir cerca de três mil e quinhentas creches em todo o país.

Em setembro de 2010, o então Secretário-Geral da ONU, Ban Ki-moon, nomeou Michelle Bachelet como a primeira diretora da recém-criada ONU Mulheres. Nesta função, ela dedicou integralmente o seu trabalho à promoção do aumento da participação política e do empoderamento econômico das mulheres e à luta para pôr fim à violência contra as mulheres em nível mundial. Na atuação internacional, Michelle também assumiu o cargo de Presidente do Grupo Consultivo do Piso de Proteção Social, iniciativa conjunta da Organização Internacional do Trabalho (OIT) e da Organização Mundial da Saúde (OMS) que promove políticas sociais que estimulam o crescimento econômico e a coesão social. Sob sua liderança, o Conselho publicou um relatório intitulado “Piso de Proteção Social para uma Globalização Justa e Inclusiva”, que atualmente serve de guia para as Nações Unidas nesta matéria, em 2011.

Chile's former President and UN Women Executive Director Michelle Bachelet attends "The Future Women Want" conference during the Rio+20 United Nations sustainable development summit in Rio de Janeiro June 21, 2012. REUTERS/Paulo Whitaker

No início de 2013, Bachelet optou por retirar-se da direção da ONU Mulheres para retornar ao Chile e disputar, novamente, as eleições presidenciais. Na ocasião, o Secretário-Geral Ban Ki-moon expressou sua “enorme gratidão por seu excelente serviço” como Diretora Executiva da instituição. “Michelle Bachelet foi a pessoa certa no lugar certo na hora certa”, disse Ban em um comunicado. “Sua liderança visionária deu à ONU Mulheres o início dinâmico que precisava. Seu destemor na defesa dos direitos das mulheres levantou o perfil global desta questão fundamental. Sua unidade e compaixão lhe permitiu mobilizar e fazer a diferença para milhões de pessoas em todo o mundo”, completou o Secretário-Geral.

Nas últimas eleições chilenas, Bachelet foi reeleita presidente e tornou-se a primeira pessoa a ocupar o cargo do Executivo em seu país duas vezes, em eleições diretas, desde 1932. A vigência de seu segundo mandato possui previsão de conclusão no final de 2018.

 

Fontes:
ONU Mulheres (unwomen.org)
Governo do Chile (web.archive.org/web/20160609080035/http://www.gob.cl/presidenta-2/)

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