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Os 50 anos da Guerra dos Seis Dias

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Minhas caras e meus caros,

Há cinquenta anos, o dia 10 de junho registrou o fim da Guerra dos Seis Dias (também conhecida como Terceira Guerra Árabe-Israelense), um conflito deflagrado entre Israel e uma frente de Estados árabes, composta pelo Egito, Jordânia e Síria e apoiada pelo Iraque, Kuwait, Arábia Saudita, Argélia e Sudão. Iniciado em 5 de junho de 1967, esse acontecimento possui duas características bem expressivas: foi a mais curta das guerras já travadas entre árabes e israelenses e, não obstante sua breve duração, o confronto resultou em mudanças geopolíticas decisivas para o futuro dos países envolvidos e do Oriente Médio como um todo.

“A Guerra dos Seis Dias é um dos capítulos mais importantes das instabilidades da região, pois foi o momento em que Israel ocupou territórios nos quais se pretende criar um Estado palestino (Cisjordânia e Faixa de Gaza), além de ter tomado um território da Síria, as Colinas de Golã, e um do Egito, a Península do Sinai. Apenas o último foi devolvido”, destaca o professor de Política Internacional Tanguy Baghdadi. “Um outro efeito é o de acirramento ainda maior das tensões entre árabes e israelenses, sobretudo pela ampla articulação promovida por países como Egito, Iraque e Síria, que foi derrotada com grande facilidade por Israel”, completa.

A partir do plano de partilha da Palestina, proposto pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 1947, e o estabelecimento oficial do Estado de Israel, em 1948, as tensões entre árabes e israelenses se tornaram constantes. Durante os anos 1950 e 1960, houve uma forte ascensão do nacionalismo árabe, liderado pelo presidente do Egito, Gamal Abdel Nasser, e apoiado por outros chefes de Estado do Oriente Médio, sobretudo os da Síria e da Jordânia. Depois da chamada “guerra de independência” de 1948, a Crise de Suez (1956), decorrente do movimento nacionalista, foi o segundo confronto militar entre os dois grupos.

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(Bandeiras palestina e israelense)

O terceiro ápice da contenda árabe-israelense, ocorreu após um período de pouco mais de dez anos sem confrontos, e é possível dizer que suas causas remontam à Conferência do Cairo de 1964, onde, pela primeira vez, a Liga Árabe revelou que destruir Israel era seu principal objetivo. Nessa ocasião, também foi criada a Organização para a Libertação da Palestina (OLP), que possuía como braços militares o Exército de Libertação da Palestina, sob o comando de vários países árabes, e o grupo de guerrilha independente Al Fatah. O clima de tensão na região aumentou consideravelmente quando essa organização passou a realizar operações militares contra Israel, utilizando uma base na Síria. Como represália a tais ações, as forças israelenses derrubaram seis caças sírios em Damasco em abril de 1967. Em seguida, Síria e Jordânia, que firmaram pactos de ajuda militar mútua em caso de guerra, pressionaram o Egito para agir em seu favor. Visando a manutenção de sua liderança no mundo árabe, o governo egípcio enviou tropas ao Deserto do Sinai, exigiu a retirada da Força de Emergência da ONU, que ocupava a região desde o fim da guerra de 1956, e enviou barcos armados para fechar o estreito de Tiran, no Golfo de Aqaba, à navegação israelense.

Esse foi o estopim para a deflagração da Guerra dos Seis Dias, na manhã de 5 de junho, a partir do ataque-relâmpago da Força Aérea Israelense (FAI) ao Egito, destruindo quase a totalidade de seus aviões de combate ainda em solo. No mesmo dia, após ofensivas da Síria e da Jordânia em Israel, a FAI também conseguiu devastar grande parte da força aérea desses países, chegando a um total de aproximadamente quatrocentos aviões árabes destruídos. No decorrer das batalhas, as forças israelenses cruzaram as fronteiras da Península do Sinai, conquistaram a cidade velha de Jerusalém – local sob o domínio jordaniano até então – e chegaram ao estreito de Tiran. Em seguida, as tropas de Israel alcançaram Rumani, região próxima ao canal de Suez, e, com o avanço sobre a fronteira da Jordânia, capturaram a Cisjordânia (porção jordaniana perto da divisa natural do rio Jordão). Por fim, em 9 de junho, o ministro israelense da Defesa ordenou um ataque à Síria, que resultou na ocupação das Colinas de Golã.

O Estado de Israel saiu amplamente vitorioso do conflito, tendo conquistado a Cisjordânia, Gaza, Jerusalém oriental, as colinas do Golã e a Península do Sinai. No entanto, argumenta-se que essa expansão territorial não fora planejada, bem como não possuía caráter definitivo. A respeito disso, o sociólogo Cláudio Camargo afirma que a Guerra dos Seis Dias foi um conflito que nenhuma das partes desejava e que, ao contrário do que possa parecer, careceu de planejamento político e estratégico por parte de Israel, embora muitos analistas árabes acreditassem que o conflito fora deliberadamente provocado pelos israelenses para expandir seu território. Contudo, a conquista e ocupação da Cisjordânia e das Colinas de Golã foram definidos ao longo das batalhas e não estavam nos planos iniciais dos estrategistas israelenses.

guerra-dos-seis-diasO acordo de paz proposto por Israel ao Egito e à Síria dias depois da guerra sustenta esse pensamento sobre o desenrolar do conflito. A proposta israelense incluía as seguintes ações: retirada das tropas israelenses das áreas ocupadas desde que fossem garantidas a liberdade de navegação no estreito de Tiran e no canal de Suez; desmilitarização da Península do Sinai e das Colinas do Golã; não-interferência no escoamento de água das nascentes do rio Jordão e, em relação à Cisjordânia, a opção de dar autonomia aos palestinos, mas manter o território sob controle israelense, ou devolver parte dele à Jordânia. Entretanto, numa conferência realizada em agosto de 1967, a cúpula árabe decidiu não reconhecer o Estado de Israel e não realizar negociações com esse. Tal postura contribuiu para o fortalecimento dos expansionistas defensores do “Grande Israel”, que anexaram Jerusalém Leste e as Colinas de Golã ao seu território e mantiveram as ocupações na Cisjordânia e na Faixa de Gaza, realizando assentamentos judaicos. Desde então, a hostilidade histórica entre árabes e israelenses se reforçou e o Oriente Médio se tornou uma região ainda mais instável em termos geopolíticos.

A Guerra dos Seis Dias foi um acontecimento marcante nas Relações Internacionais e seus efeitos são verificados até os dias de hoje. Por isso, esse é um tema que, não raro, aparece de forma direta ou indireta nos concursos de carreiras internacionais, sobretudo naqueles cujos editais incluem Política Internacional (PI) – como o Concurso de Admissão à Carreira de Diplomata (CACD) – ou Atualidades/Conhecimentos Gerais, como a seleção para Oficial de Chancelaria por exemplo.

A respeito disso, nosso grande mestre de PI Tanguy Baghdadi salienta: “a tendência do CACD nos últimos anos tem sido a cobrança de temas relacionados a contextos regionais específicos, e o Oriente Médio é sempre uma possibilidade, como tem mostrado as últimas provas. Esse evento, que completa 50 anos, é basilar na composição do Oriente Médio atual e compreendê-lo é necessário para bem interpretar a atual configuração da região. A partir da compreensão da Guerra dos Seis Dias, podemos avaliar eventos como a assinatura de um acordo de paz entre Egito e Israel – e a consequente perda de liderança por parte deste país árabe – a instalação de assentamentos israelenses em territórios palestinos e a radicalização de parte da resistência palestina, para mencionar alguns exemplos”. Em relação as outras provas, o professor destaca que “os demais concursos de carreiras internacionais também tendem a ser sensíveis a temas de atualidades, e a Guerra dos Seis Dias é um dos fundamentos do Oriente Médio atual”.

Sendo assim, pupilos e pupilas, é importante atentar para esse assunto durante os estudos não só de História Geral, mas também para o aprendizado de Política Internacional! Para ajudá-los (as) nessa tarefa, o professor Tanguy deixa ainda uma dica preciosa: “como o estudo para concursos públicos exige foco, indico o livro do professor Márcio Scalércio, chamado “Oriente Médio: uma análise reveladora sobre dois povos condenados a conviver”. Agora, é só correr para a leitura, meus queridos! 😉

 

Fonte: CAMARGO, Cláudio. “Guerras Árabes-Israelenses”. In: MAGNOLI, Demétrio. História das Guerras. São Paulo: Contexto, 2006.

 

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