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Baronesa do Mês: Mônica de Menezes Campos

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Minhas caras e meus caros,

Em 25 de julho, é celebrado o Dia Internacional da Mulher Negra Latino-americana e Caribenha. Esse marco foi estabelecido durante o I Encontro de Mulheres Afro-Latino-Americanas e Afro-caribenhas, realizado em Santo Domingo (República Dominicana), em 1992, e reconhecido pela Organização das Nações Unidas (ONU) ainda nesse ano. Na ocasião, também foi instituída a Rede de Mulheres Afro-latino-americanas e Afro-caribenhas. Tais acontecimentos surgiram da necessidade verificada pelas mulheres negras das Américas do Sul e Central de se organizarem à parte e provocarem reflexões críticas no âmbito dos movimentos negro e feminista, visto que ambos se reconheciam como compostos por identidades homogêneas até meados dos anos 1970 e, por isso, não contemplavam suas demandas específicas.

A celebração do Dia da Mulher Afro-Latino-Americana e Afro-Caribenha é extremamente relevante por valorizar suas contribuições políticas, intelectuais, econômicas e socioculturais no processo histórico de seus países e do continente. Também foi graças à articulação das mulheres afro-latinas e caribenhas que os governos da região passaram a constituir acordos e políticas internas e internacionais que vêm permitindo avanços na participação das mulheres negras em espaços como a universidade pública, o mercado formal de trabalho, os veículos mídia e a política partidária.

No Brasil, o dia 25 de julho é duplamente importante: além da data internacional, também é celebrado por aqui o Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra. Essa data foi instituída por meio da Lei nº 12.987/2014, sancionada pela Presidenta Dilma Rousseff, e contribuiu para dar maior visibilidade a esse movimento de mulheres. Tereza de Benguela foi uma líder quilombola e viveu durante o século XVIII no Mato Grosso. Com a morte de seu companheiro, ela se tornou a rainha do quilombo Quariterê, e, sob sua liderança, a comunidade negra e indígena resistiu à escravidão por duas décadas, sobrevivendo até 1770, quando o quilombo foi destruído e a população – cerca de 79 negros e 30 indígenas –, morta ou aprisionada.

Neste ano de 2021, como forma de celebrar a importância nacional e internacional de ambas datas, nossa homenagem do mês de julho vai para uma baronesa da diplomacia brasileira, que representa muito bem as mulheres negras da América Latina e do Caribe em nível mundial: Mônica de Menezes Campos, a primeira diplomata negra do Brasil!

 

Mônica de Menezes Campos nasceu em 1957, no Rio de Janeiro, e passou a residir em Brasília em 1972. Cursou Letras na Universidade de Brasília (UnB) e Direito na Universidade do Distrito Federal (UDF), e foi aprovada, aos 21 anos, no Concurso de Admissão à Carreira de Diplomata em 1978. Assim, tornou-se primeira estudante negra – entre homens e mulheres – do Instituto Rio Branco (IRBr) e primeira mulher negra a servir como diplomata no Itamaraty.

Infelizmente, são escassos os registros públicos sobre sua vida e trajetória de carreira, dos quais a maior parte dos conteúdos consiste em matérias de jornais e revistas de difícil acesso hoje. Em virtude disso, reproduzimos, a seguir, publicações realizadas por alguns dos principais veículos de comunicação na ocasião de sua aprovação no concurso. Selecionamos também dois trechos importantes de pesquisas oficiais produzidas sobre o destacado pioneirismo da diplomata: o primeiro retirado do livro “Mulheres Diplomatas no Itamaraty, 1918-2011 – Uma Análise de Trajetórias, Vitórias e Desafios”, do diplomata Guilherme Friaça, e o segundo de publicações da página do documentário “Exteriores – Mulheres Brasileiras na Diplomacia”, produzido pelo Grupo de Mulheres Diplomatas do Itamaraty em 2018.

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“A abordagem institucional relacionada à discriminação de raça data de 2002, quando, no governo Fernando Henrique Cardoso, deu-se início ao Programa de Ação Afirmativa para Bolsistas em processo de preparação para o concurso do IRBr. Desde então, 19 bolsistas foram aprovados nos concursos de acesso, sendo seis deles mulheres. (OLIVEIRA, 2011) Não há, contudo, informações oficiais sobre o número de mulheres negras na carreira diplomática, o que aponta para o que especialistas denominam “dupla invisibilidade”, resultante da dupla discriminação. Sabe-se que primeira diplomata negra foi Mônica de Menezes Campos, que ingressou no IRBr em 1979. Casada, adotou o nome Mônica de Veyrac. Teve a carreira interrompida prematuramente por sua morte no ano de 1985, aos 27 anos. A questão da dupla discriminação merece aprofundamento em estudo que venha a ser desenvolvido”.

(FRIAÇA, 2018, P. 258)

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“A primeira diplomata negra foi Mônica de Menezes Campos, aprovada em 1978 no concurso de admissão à carreira diplomática. Seu ingresso no Ministério das Relações Exteriores teve grande repercussão na imprensa da época, como exemplifica a matéria abaixo (Correio Brasiliense). Mônica faleceu precocemente em 1985, na Costa Rica, de causas naturais. O documentário ‘Exteriores – Mulheres Brasileiras na Diplomacia’ falará mais sobre a trajetória desta mulher pioneira e também sobre as mulheres negras no Itamaraty.

No documentário, resgatamos algumas histórias esquecidas. (…) Também resgatamos a história de Mônica de Menezes Campos, a primeira diplomata negra, falecida precocemente em 1985 de um aneurisma cerebral. Aprovada em 1978, à época Mônica foi celebrada como símbolo e arauto de alegados “avanços” no Itamaraty – mas, depois, foi totalmente esquecida. Entrevistamos a irmã, Márcia de Menezes Campos”.

Documentário “Exteriores – Mulheres Brasileiras na Diplomacia”

A entrevista realizada com Márcia de Menezes Campos, irmã de Mônica, pode ser vista no documentário, a partir de 27 minutos do filme, disponível em: https://vimeo.com/argonautas/mulheresdiplomacia

 

Matéria do jornal Correio Braziliense de agosto de 1978:

Link para o arquivo original: http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=028274_02&pagfis=108006

 

Matéria da revista Manchete de 1978:

Link para o arquivo original: http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=004120&pagfis=178987

 

Matéria do Jornal do Brasil de agosto de 1978:

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Link para o arquivo original: http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=030015_09&pagfis=184218


 

Referências:

Fundação Cultural Palmares – palmares.gov.br/?p=54714

Universidade Estadual de Feira de Santana – uefs.br/modules/noticias/article.php?storyid=1160

Hemeroteca Digital Brasileira – bndigital.bn.gov.br/hemeroteca-digital

FRIAÇA, Guilherme José Roeder. Mulheres Diplomatas no Itamaraty, 1918-2011 – Uma Análise de Trajetórias, Vitórias e Desafios. FUNAG, 2018.

Exteriores – Mulheres Brasileiras na Diplomacia. Grupo de Mulheres Diplomatas, 2018.

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